quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lisboa, primeiras impressões.

Se, algum dia, um de vocês for à Lisboa em meados de Dezembro e/ou Janeiro, lembrem-se: levem guarda-chuva.
Chove, ou melhor, peneira (uso esse verbo porque li em Memórias Póstumas, de nosso querido Machado, dia desses - nem preciso mencionar que achei estupendo). Pouco e de repente, mas praticamente o dia inteiro. E, da mesma forma como a chuva chegou, ela se vai. De repente.
Gosto do clima daqui. As pessoas andam nas ruas, todas com roupas de inverno. Muitos fumam. Não gosto que fumem, eu mesma nunca fumei. Mas é engraçado como fumar me lembra inverno.
Enquanto eu estava dentro do carro (aluguem um carro e um GPS. Ajudam muito, mesmo você não sendo o melhor motorista do mundo), ele estava com os vidros embaçados, por conta da chuva, o calor humano tem esse dom.
Avistei um homem. Ele fumava. Na chuva (é claro, chuva). Estava ventando, além do frio que fazia. Percebi que um vício pode ser sustentado em qualquer circunstância (porque decididamente não acredito que fumar acompanhado de vento e chuva seja fácil).

Sem mais, por enquanto.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

(montando um parênteses)

E-mail, uma forma nova de firmar uma coisa já muito antiga... a carta.

"Lembra que te falei do medo da rotina? Percebi que não existe rotina conosco. Cada dia é como é. Nenhum é igual ao outro, nenhuma conversa é igual a outra. Eu amo isso em nós. Essa mudança que precisamos ter. Essa necessidade de mudar tudo, desde os móveis da casa até o mundo. Não gostamos de coisas sempre iguais, sempre monótonas, sempre em seus lugares, 'acomodadas'. Gostamos mesmo é de agitação, de novidade, de um amor que nos tire o fôlego, chorar quando necessário, rir muitas e muitas vezes, conversar durante dias e não terminar o assunto... amar, amar, amar e amar.
Temos um perfil muito igual, muito harmonico, em sintonia.

O fato é... eu só existo com você ao meu lado."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A terra e a Terra.


Esses dias, conversando com a pessoa mais fundamental de minha vida, falamos sobre os índios.
Sempre os achei de uma 'integridade com o todo' de dar inveja. Ela comentou comigo sobre o Estatuto do Índio. Logo após nossa conversa, lembrei de um passeio que fiz quando cursava o ensino fundamental; fomos para algum parque indígena.
Eu era tão nova que não me lembro qual era o nome do local.
Lembro-me com uma exatidão incrível o cheiro da terra de lá. Fiz questão de colocar as mãos nela, deixa-la passar entre meus dedos miúdos de criança, aproximei de meu nariz. Cheirava diferente, nunca mais encontrei qualquer outro odor que se aproximasse daquele. Cheiro de terra molhada misturado à praia no fim de tarde. Cheiro de vida.
Também consigo lembrar das flechas (que muito me chamaram a atenção). Estavam sobre uma mesa feita por eles, talhada. Era toda em relevo, tinha um tatu. Lembro de ter passado as mãos lá também, parecia que eu precisava tocar para sentir, de fato, o que eles queriam me passar.
Fiquei o dia inteiro com essa constante em minha mente "eles fizeram uma mesa, com as próprias mãos!".
Grande parte de todos eles estava incrustada naquela madeira, não tenho dúvida. Fiquei olhando a mesa durante muito tempo enquanto meus colegas pegavam as flechas. Um menininho da tribo se aproximou de mim e disse algo que até hoje eu não descobri. Deve ter sido algo entregue e verdadeiro.
Só parei, assustada... e fiquei olhando-o. Ele fez o mesmo. Analisei e inspecionei seus cabelos. Vi que eram castanhos e não pretos, como via nas figuras dos livros. Foi a primeira vez em que percebi como o contato é essencial. Olhei seus olhos, como eram redondos! A íris era da cor da jabuticaba que comi mais tarde na casa de minha avó (inclusive me lembrei dele ao comê-las). A pele era da cor da madeira da mesa-tatu-talhada. Um marrom bonito, marrom-cor-de-vida.
O contato não durou mais do que minutos, mas foi o suficiente para eu perceber como são bonitos e inteiros, os índios. Hoje sei que isso só é possível se enxergarmos o outro. Olhar por fora, mas ver por dentro.
Não sei se foi a pureza da infância que me fez enxergar, mas lembro-me dele tão bem que praticamente posso vê-lo aqui. Senti que ele falava pelos olhos; grandes, molhados, sinceros e muito íntegros.

Fiz questão de ir ao Google (meu companheiro de buscas) para procurar qual era a tribo que fui visitar com meus 11 anos de muita experiência de vida. Mesmo com todo meu empenho e a boa vontade do meu amigo, não encontrei o parque que tanto queria mostrar à vocês.

Algo que eu esperava encontrar em minha visita rápida à essa tribo, eram penas. Sim, penas. O que mais uma criança brasileira pensaria sobre um índio? (envergonho-me desse fato até hoje)
Levei um susto ao ver que não existiam tantas penas assim. Mas existia beiju. Beiju (com a entonação na última letra), para aqueles que não o conhecem, é a nossa tapioca original.
É feito com mandioca ralada, tornando-se uma massa fina. (nossa querida índia está fazendo-o aqui, na foto ao lado)
Não senti gosto de comida. Não há gosto de comida, nem de mandioca. Tem gosto de fumaça, isso é verdade. Ele é cozinhado sob um fogo intenso e, quando experimentei, tinham-no feito dentro de uma cabana fechada, o que fez com que o gosto de fumaça fosse substancialmente incrementado. Mas é um alimento que mostra a natureza exatamente como é, sem adicionais.
Os portugueses "adaptaram" (modo bondoso de dizer) o beiju dos índios... e os africanos ajudaram. Eis que hoje temos a tão famosa tapioca. Ela é um beiju à la afro-portugueses. Com açúcar e côco, na maioria das vezes.

Ao final, sentei-me com minha sala para assistir uma celebração deles. Disseram-me que ela era realizada todos os dias, agradecendo ao sol por ter nascido novamente. Até hoje lembro-me da entrega constante de todos eles à natureza. Sábios, muito sábios. Agradecer à presença do sol? Aqui na cidade ninguém tem tempo para isso não, meus queridos índios. As pessoas estão muito mais preocupadas com o trânsito que pegarão para ir ao trabalho na segunda-feira. Lembro-me que pensei, "nossa, que alívio deve ser para eles quando o sol nasce, eles não têm lâmpadas aqui!". (sim, riam, é cômico)
Gosto muito de lembrar dos pés deles batendo no chão enquanto dançavam e tocavam seus instrumentos, naquele dia ensolarado. A poeira levantava em conjunto. Um círculo de poeira se fez no meio da roda, então passei a confundir índios e terra. O que os distinguia no meio da cortina de terra era o vermelho das formas irregulares pintadas sob seus peitos, braços e pernas. Eram um, a natureza e eles.
Ouvi muito bem o som que vinha de suas cordas vocais. Não era como nossa música, como o vocal que temos hoje em uma banda. Aquela música não pertence a eles também. É natureza, não música. Ou será que a natureza é também música?


domingo, 1 de agosto de 2010

Louvre e o muçulmano.

Hoje sentei na frente do computador sem saber o que escrever.
Mas a vontade eu tinha.
Passei mais de um mês sem postar algo por aqui em meu querido blog.
Às vezes fico pensando no motivo pelo qual criei isso. Porque sinceramente eu não acredito que as pessoas passem por aqui com grande frequência.
Acho que criei pelo simples fato de gostar de escrever, mesmo que de forma amadora.
E eis que hoje foi a primeira vez que entrei sem pensar em nenhuma viagem que eu tenha feito. Não consegui lembrar, fiquei olhando fotos, pensando em algo produtivo e diferente.
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Então comecei a lembrar do cheiro que tem o museu do Louvre, em Paris. Ele cheira a antiguidade, ao mesmo tempo em que cheira àquele móvel de madeira novo. Engraçado. Os cheiros se misturam e sempre me lembram algo que não seja lá muito concreto. As pessoas costumam chamar a isto de sinestesia.
Mas voltando ao assunto, o que gosto muito do museu é a sua diversidade.
Quando fui, encontrei um muçulmano, de turbante e tudo (digníssimo) vendo a Mona Lisa. Ela sorria para ele, com aquele pseudo-sorriso que só ela sabe ter. Ele olhava, talvez pensando "é isso que os ocidentais tanto falam?". Porque eu não vi nenhuma expressão querendo aparecer nele.
Ele simplesmente olhava, como se ali estivesse uma parede branca. Ficou parado uns poucos segundos. Eu só o vi de relance, estava bem cheio. Mas de toda forma, foi o que me pareceu. Indiferença. Achei estranho, não havia ninguém ao seu lado (muçulmanos raramente viajam e, quando o fazem, é sempre com muita gente).
Senti uma enorme vontade de para-lo (não no sentido literal, mas no sentido de tira-lo de seus pensamentos), somente para perguntar em alguma língua que ainda não sei, "O que o senhor está pensando? Satisfaça uma curiosa, por favor."
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Depois disso comecei a pensar, porque às vezes eu tenho esse hábito.
Presenciei algo que pensei que não existisse: o costume dos povos, todos misturados. Em um local que tem por finalidade guardar monumentos/pinturas/roupas/artefatos de nações e civilizações. Lá, vão pessoas; todas elas bem curiosas de ver não-sei-o-quê. Sentam-se, ficam olhando, pensando; fazendo cada um de seus neurônios elaborarem ou, ao menos, assimilarem um pouco do mundo. Mas tudo é bem mais complexo do que somente olhar e pensar. Ali estão marcas, estão partes de pessoas. Marcas de épocas... e sofrimento, e alegria, e criatividade, e expressão. (sim, com todos esses E's com vírgula, bem no sentido de somar, de agregar)
De repente, um muçulmano que reza cinco vezes ao dia virado para Meca, que não aceita que sua mulher use outra coisa na rua senão uma burca, fica tête-à-tête com Mona Lisa. Ela, que nem nós, Ocidentais, conseguimos compreender. Sabemos como é misterioso o porquê de Mona Lisa, o motivo. Muitas histórias giram ao redor daquele pseudo-sorriso. O muçulmano então, coitado.
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O choque de culturas, entendem? A mistura entre elas. Isso tudo me deixou maravilhada!
Ele já deve ter ouvido falar, em algum momento. Deve ter visto em alguma foto. Devem ter dito a ele "olha, essa é a maior obra do mundo!". Ele, que não aceita que seu Deus apareça com o rosto em obras de arte, que não vive sem seu Alcorão, quem não consegue cumprimentar alguém sem dizer Salaam Aleikum.
"Ele deve ter dinheiro..." - foi o que pensei.
Muçulmanos têm muito dinheiro. Não todos, mas os que viajam têm. Vi vários, andando juntos. Muitos inclusive de mãos dadas (entre eles não há preconceitos, a cultura não implantou isso em seus cotidianos, amizades e relacionamentos - pelo menos não esse tipo de preconceito, se é que vocês me entendem). Com os bigodes, as barbas. As mulheres, de burca. Detalhe: todas ornadas de Victor Hugo e Armani.
Mas o fato é: ele se deixou levar por uma cultura que não é a dele. Deixou-se levar e estava lá, entre as pessoas. Pode ter sido por curiosidade, isso é verdade. Pode ter sido por um impulso, por um momento. Mas, de uma forma ou de outra, ele se encontrou com o lado desconhecido. Ele permitiu-se encontrar com o desconhecido.
Não que isso tenha mudado a vida dele, mas o mundo com certeza ficou um pouco mais tolerante. Da mesma forma que tenho minhas dúvidas... será que alguém, católico-apostólico-romano-com-tudo-dentro iria à Meca?
Vale a pena misturar, vale a pena permitir que um pouco do outro entre em nossas cabeças. Não é tão difícil, é só deixar.
Viajar é muito construtivo, eu já disse isso?

domingo, 20 de junho de 2010

I want to be a part of this.


Vamos fingir que você acaba de chegar naquela cidade da música que todos estão cansados de ouvir naqueles cd's antigos. Aquela cidade onde os melhores cantores do século viveram, comeram, morreram. Aquela cidade que Frank Sinatra e Gene Kelly dançaram e cantaram no musical "On the Town" (tá, é esplêndido, não é?).
New York city.
Tive o imenso prazer de estar por lá por um tempo. Um país odiado por muitos, amado por tantos outros. Roubam muito, mentem muito. Mas amam muito, acreditam muito. No fim das contas, como qualquer outro país, inclusive o nosso, meus queridos.

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Desça do avião, em primeiro lugar. Ah, eles colocam como música de fundo o tema da cidade, cantado por Frank Sinatra, é claro.
Assim que você chegar, preste atenção no sotaque deles. Como falam rápido! Também querem tudo rápido, o passaporte (não diga bomba, em momento algum!), as malas, as identidades. Todos me lembram muito os paulistanos. Apressados, fazendo de um dia 72 horas.
Não esqueça de pegar um táxi. Lá eles são todos muito baratos. Os taxistas norte-americanos não são tão educados quanto os franceses, mas têm simpatia de sobra. Não peça ajuda com as malas, porque o máximo que eles vão fazer é colocá-las na calçada para depois entrar no carro e sair correndo. Não fiquem chateados. Não é falta de educação, é pressa mesmo.
Vá ao hotel, ah! e de preferência pegue um no centro mesmo, lá você fará tudo a pé ou, no máximo, de metrô.
Antes de mais nada, pegue um mapa da cidade. Você verá que as ruas são todas enumeradas. Na horizontal e na vertical (eles são metódicos, é claro). É bem mais fácil de se achar, eu garanto. Depois que voltar para São Paulo vai ficar se perguntando porque o mundo inteiro não poderia ter ruas enumeradas, acredite.
Nunca me esqueço do primeiro dia que passei lá. Era 4 de Julho (vamos lá, façam um esforço e vocês vão se lembrar do que essa data significa para todos eles). Muitas bandeiras norte-americanas para tudo quanto é lado. Nos carros, nas janelas e até mesmo nos chinelos.
Naquele dia vi um show de fogos de artifício. Na verdade, não vi. Não deu muito certo, parece que queimaram na hora errada e não soltaram. Mas tudo bem, valeu a pena pela lua cheia que estava naquele dia (essa aqui embaixo).
Quando for falar com um cidadão que mora nos estados unidos, olhe em seus olhos. Engraçado, parecem muito sinceros. São simpáticos também, sempre ajudam quando necessário. Mas não pense que você vai conversar com eles mais do que 10 minutos. Eles não dão esse tipo de abertura. Parecem ter puxado isso dos seus queridos ingleses.
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No centro, se eu não me engano na Lexington Avenue, há uma livraria. Enorme. Linda. É da
rede Barnes & Noble (essa na foto, aqui do lado). Muitos livros, cd's, dvd's. E sabe qual é o melhor? Tudo ao som de Blues. Eles deixam tocando no fundo da loja.
Lá existem livros de autores renomados... (tais como Oscar Wilde) por nada mais, nada menos, do que US$9,99 dólares. Não tem como não comprar! Confesso que tive que me controlar.
Ah, quando entrar, repare no cheiro da loja. Cheira à livros. Daqueles que chegam pelo correio e quando você abre a caixa te invadem por todos os lados.
Depois, ao lado da Barnes & Noble há a Starbucks. Tomei café, capuccino e todas as outras delícias de lá. Não deixe de ir! É aconchegante, lembra aqueles filmes antigos (os branco e preto mesmo). Só leve uma boa companhia, para que o assunto não tenha fim e que venha acompanhado de muita cafeína.
Não deixe de ir ao Central Park. Ele é bem central mesmo, faz jus ao nome. No meio daquele concreto você avistará um ninho verde. Entre nesse ninho. Deite na grama e aproveite para ler aquele Oscar Wilde que você comprou por US$ 9,99. Aliás, para quem não sabe, lá é o país do consumismo (e essa eu duvido que tenha alguém que não saiba). Mas aproveite para comprar o que interessa. Vá as lojas, mas não esqueça das livrarias (tá, parei!).
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O museu! Como esquecer do museu? The Metropolitan. Ah, não deixe de ir, por favor! É enorme, aglomera todas as épocas da humanidade, com os quadros e os vasos (sim, vasos!) antigos que o mundo decidiu guardar. Todos lá, esperando pelos olhos curiosos e insaciáveis dos apreciadores de história.
Depois de todo esse mundo de livros e músicas (e café também), vá as compras! Leve um dinheiro a mais, compre roupas que vão durar o resto de sua vida, compre calças que te vistam muito bem. As roupas de lá são para isso mesmo, para adotar, comprar e ficar muitos anos com você. São ótimas. Tudo bem que, para mim, com todo o meu tamanho (para quem não sabe, sou bem baixa!), algumas roupas (mesmo as XXS) ficam grandes, mas nada que uma boa costura não resolva, não é?
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Sabe qual é a maior constante nas ruas de New York city? Sirenes. Como gostam de sirenes! Ouvi todos os dias, todos os instantes. Com os bombeiros, com os policiais. Acho que qualquer gato no telhado é motivo de ligar as tais das sirenes. Mas, como boa paulistana, estou acostumada.
Ao sair de New York, saia feliz. Um exemplo de um lugar certo para se viver, para se morar. Eles acertaram, mesmo sendo metódicos e mesmo deixando o avião destruir aquelas torres, em tudo. Respire fundo e diga "até logo, see you soon."

domingo, 4 de abril de 2010

Ahhh a natureza!


Hoje cheguei à uma conclusão interessante. Tudo que eu escrevi até agora só dizia sobre cidades e afins. Como assim? Como eu ainda não homenagiei a mais singela e linda de todas as belezas do mundo? Isso é praticamente um crime! Mas não seja por isso, agora vou me redimir.
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Pensei durante um bom tempo sobre o que iria dizer... foi então que me lembrei de uma viagem que fiz para Iporanga (São Paulo), para o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, o PETAR. Ele foi criado em 1958 e abriga mais de 300 cavernas, todas cadastradas pela SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia). A viagem foi, no mínimo, espirituosa. É engraçado como podemos crescer como seres humanos pelo simples fato de entrarmos em contato com a natureza, senti-la... e principalmente, respeita-la.
O Parque é cheio de trilhas, cheio de Mata Atlântica... portanto, leve tênis (que possam ser jogados no lixo, se necessário),uma
garrafa de água e muita disposição. Você vai fazer caminhadas de horas, vai encontrar animais e terá a oportunidade (eu diria que até certo ponto, única) de entrar e visitar muitas cavernas. Vai também acordar cedo (normalmente 5 horas da manhã, para aproveitar bem o dia, antes de anoitecer), tomar um café da manhã rápido em uma das pousadas que existem por lá e acompanhar o guia.
Os guias são excelentes. Sempre contam a história do Parque e das cavernas antes de começarem a longa caminhada. Ah, se chover, respire o mais fundo que seus dois pulmões aguentarem. É o melhor cheiro do mundo! É, enfim, a natureza te mostrando que ela existe e, é claro, te dando as boas vindas para um dia bem molhado.
Por falar em cheiro, acho que o que eu mais percebi e apreciei durante a viagem foram os diversos cheiros. Descobri que a natureza não é única, singular. Ela é plural! Extremamente plural. Veja as cores também! Não se esqueça de olhar as cores, todas elas, em todos os animais, flores, cogumelos (não os coma, existem efeitos indesejáveis, como vocês já devem ter ouvido falar)... mas quando entrar nas cavernas, esqueça das cores. Não há cores. É então que você descobre que não é necessária a presença de cores para que a natureza se mostre. Um pouco de luz e curiosidade... e o ambiente está montado.
Perceba todos os espeleotemas das cavernas. Espeleotemas, para quem não sabe, são todas as projeções rochosas que estão
dentro das cavernas. Os mais conhecidos são as Estalactites (projeções compostas pela corrosão das rochas e deposição de CO2 associado à água, elas pendem do teto em direção ao chão, verticalmente) e as Estalagmites (compostas por mineirais depositados no chão através de gotas que se sedimentam, imagine só o tempo que isso deve demorar para formar!!!). Além desses dois espeleotemas, há ainda as chamadas cortinas, espirocones e tantos outros nomes interessantes e incríveis.
Depois que você apreciar tudo isso (com o seu "capacete especial", com uma lanterna de cabeça, para iluminar), o guia vai fazer a coisa mais interessante que eu já vi. Ele pede para que todos apaguem os seus capacetes e que se sentem no chão, em silêncio, durante um minuto.
Sente-se sim, mas deixe seus ouvidos atentos e ligados. Nunca senti tanto medo e esplendor ao mesmo tempo em minha vida. É tudo tão quieto e intrigante. Divino, no mínimo. "Deus existe!" - você pensa. Mas depois, as luzes se ascendem... e a sua vida volta ao normal.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Rei Sol e Versailles.



Mais uma vez, França (pois é, eu não me canso!).
Quem já foi mais de uma vez para lá, com certeza deve ter passado por Versailles. Lá, uma cidade pequena com todas as características francesas da Revolução, com seus prédios, suas vielas e seus jardins característicos, você vai encontrar o tão falado Palácio de Versailles.
O rei Sol - estou falando de ninguém menos que Louis XIV - habitou o palácio durante todo seu longo e glorioso reinado (1643-1715), além de seu neto - Louis XVI, o decapitado - e sua mulher - Marie Antoinette, aquela dos brioches. Todos os salões, todos os quartos e todos os jardins parecem ter parado no tempo, assim como a cidade.
Quando você chegar observe bem a cidade. Lembre-se de toda a história que ocorreu por lá, veja as calçadas, as construções, as pessoas. Peça para que o guia turístico lhe mostre os prédios de todas as "preferidas" do rei Sol. Ele costumava dar uma casa para cada uma delas, com tudo do bom e do melhor. E para você, que não sabe o que e quem eram as preferidas do rei, aqui vai uma dica: hoje, são vulgarmente chamadas de amantes.
Depois, peça para o guia passar ao lado de uma grande construção que mais parece um quartel. Ela é enorme e com uma arquitetura extremamente quadrada. Fica ao lado do palácio... e acredite, ela é nada mais nada menos do que a cozinha (sim, cozinha!) do palácio. Era lá que eram preparados os pratos servidos à família real e à toda nobreza.
Fiquei pensando durante muito tempo em como faziam os franceses, no inverno, para que a comida não esfriasse no caminho entre a "cozinha" e o palácio (é hilariante).
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Agora você vai entrar no palácio. Não não, não entre ainda! Antes disso, olhe o lado de fora. Quer saber o que mais me chamou atenção? Os portões. São dourados e cheios de símbolos. Preste atenção em todos eles e se a curiosidade te chamar, procure um livro de história e então entenderá cada um desses símbolos. A maioria deles representam a grandiosidade do rei Sol e todos os seus feitos.
Aliás, por falar em grandiosidade, observe a frase que está no alto da parte direita do Palácio "A Toute Le Glorie de France" (À toda Glória da França). Repare na grandiosidade intrínseca que os franceses demonstram em suas obras.
Pegue fones de ouvido na entrada (se você estiver sem o guia turístico, elas serão úteis, uma vez que passam as informações na linguagem que você escolher), junte-se ao seu grupo e siga em frente. Uma coisa eu tenho certeza que irá notar. Ninguém fala lá dentro. O impacto é tão grande e a "energia" tão presente que o silêncio predomina. O chão é sempre de madeira, aliás, esse é o único barulho que se ouve, o pisar dos sapatos na madeira.
Passe por todas as salas, as ante-salas e os quartos. Uma característica não pode, de jeito nenhum, passar desapercebida: o teto. Cada sala tem, em seu teto, a pintura de um dos deuses gregos. Se olhar durante mais que 30 segundos, te garanto que você vai se sentir no céu. Ah, repare também no cheiro do palácio. Tem cheiro de casa de campo. Daquelas que você vai passar o inverno com os amigos ou com a família.
Tudo brilha, tudo tem em si incrustado cada minuto da vida da França.
O quarto de Louis XIV (aqui do lado, na foto) encontra-se lá, grandioso como ele. No teto, você verá Apolo e suas chamas em uma biga - Le Char d' Appollon - pintado por Charles de la Fosse especialmente para ele. Ele era tão político que fazia questão de receber alguns dos nobres mais famosos todos os dias pelas manhãs. Todos ficavam no quarto, aguardando o despertar e seu médico pessoal verificar-lhe o estado geral. Era assim... todos os dias.
Repare no quadro encontrado no quarto de Marie Antoinette. Veja o seu olhar, o olhar de seus filhos. Todos loirinhos e pequenos. Ela, com seu rosto de rainha e ao mesmo tempo transmitindo uma simplicidade sem igual.
Quando entrar na sala dos espelhos (conhecida por ser a maior sala de festas e a única que possuía tantos espelhos naquela época onde o vidro e os espelhos eram de extremo preço alto), o último conselho que dou é que repare nos espelhos. Eles são feios e velhos, manchados. Mas não se desanime, eles só estão assim porque os franceses são tão respeitadores de sua história que resolveram não mudar nada dessa sala. Do lado esquerdo vê-se espelhos adornados com ouro, do lado direito, janelas imensas... que levam você a olhar para o jardim imenso de Versailles.
Antes de ir embora, vá aos jardins. Sente-se na grama. Ponha as mãos na grama, bem lentamente. Olhe o céu, as flores e as árvores. Veja os caminhos e os labirintos que ele lhe apresenta. Senti uma vontade enorme de entrar nesses caminhos e me perder por lá para sempre. O jardim é tão colorido e cheio de vida na primavera, tão misterioso e frio no inverno e tão quente e romântico no verão. Cada estação traz o seu encanto, o seu despertar de sentimentos.
Vou contar um segredo... só para vocês.
Antes de dormir, penso em Versailles. Penso principalmente no jardim. Foi um dos melhores lugares que já conheci. Transmite paz... e um sentimento único de que tudo vai ficar bem, independente do que for.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Liberdade dos Paulistanos.

No último final de semana das minhas férias, fui ao apartamento de um grande amigo (um irmão!). Conversa vai... conversa vem - com muita música e comida - quando de repente, não resistimos e caímos em nosso tema predileto: A cidade de São Paulo.
Ele me contou que dias atrás estava lendo uma revista quando se deparou com um pequeno texto descrevendo a cidade.
Então, veio a frase que marcou o meu fim de semana: Gabi, eu li que "São Paulo é tão encantadora que passa a impressão de que transa com os habitantes a cada minuto".
Que palavra forte, não?
Quando cheguei em casa fiquei por um bom tempo pensando no assunto. Pensei também no quanto sou uma garota de sorte por poder morar aqui. Entrar no metrô e descobrir o mundo! Digo o mundo, porque todos nós estamos cientes do quão cosmopolita é São Paulo e eu, como toda boa admiradora de seres humanos, amo lugares assim.
Se você não é daqui e quer alguma dica exclusiva, sinto lhe informar, mas não há um lugar único que você possa ir e que englobe todas as diversidades e sabores existentes na cidade. Mas embora isso pareça um mau aspecto, acredite, não é!
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Eu ainda pretendo escrever muito sobre cada um dos lugares que conheci dessa floresta de cimento, concreto e prédios. Mas vou começar pelo Bairro que marcou minha vida. Foi lá que frequentei quase um ano inteiro, com as melhores amigas que alguém pode ter, uma mochila cheia de livros pré-vestibular, muito papo, disposição e curiosidade. Fizemos questão de conhecer cada viela e loja.
Um bairro que tem no nome a melhor palavra do dicionário. Que por si só resume tudo que o ser humano já tem intrínseco por natureza. Já ouviu falar em Liberdade?
Todos os descendentes orientais (ou grande parte das etnias incríveis de lá) reunidos em um local que parece ter sido milimetricamente arranjado para que todos se sintam um pouco do outro lado do mundo. Os postes (por mais estranho que pareça) me deixam maravilhada. São vermelhos e num estilo oriental de dar inveja.
Vá de manhã, para aproveitar bem o dia. Leve com você uma boa companhia, ou vá sozinho mesmo, lá é também um ótimo local para refletir pacientemente sobre os problemas (e soluções) da vida. Saia do metrô (sim, estou deduzindo que você irá de metrô) e suba as escadas, repare na diversidade de adolescentes que vai encontrar por ali. Todos com roupas coloridas - ou totalmente pretas -, maquiagens diferentes e toucas de personagens que saíram diretamente dos animes.
Suba as escadas, atravesse a rua e procure pela Ikesaki. Entre e compre algum shampoo, uma escova ou apenas um batom cor-de-boca. Lá os preços são baratos e enlouquecem não só mulheres, como homens. Minha mãe costuma passar o dia por lá, entre as prateleiras, alguns blushes e também revistas com cortes de cabelo.
Mesmo assim, procure entrar em todas as lojas - que costumam estar em lugares pequenos, mas que por dentro parecem conter tudo que você jamais pensou existir -, olhe cada boneca de porcelana - tenho uma cor de rosa -, cada peixe dos aquários - eles aparecem com frequência - e, principalmente, cada ser humano.
Por favor, não perca tempo se estressando com a quantidade de pessoas (essa é uma dica que dou, não só para o bairro da Liberdade, mas como para São Paulo inteira), principalmente se você decidir ir no domingo.
Porque nesse dia, há uma feira. Daquelas em que você encontra barraquinhas com japoneses, chineses ou coreanos simpáticos sorrindo para você e esperando ansiosos sua aproximação. Compre também alguma novela japonesa - recomendo Hotaru no Haka, conta a história da Segunda Guerra mundial, e... preciso confessar, elas deixam qualquer série e novela brasileira num nível extremamente baixo -, depois vá almoçar num restaurante tradicional.
Certa vez entrei em um desses restaurantes que lembram os filmes antigos do Jackie Chan e ouvi o cozinheiro gritando algo (não só ele, como todos os funcionários). Levei um susto imenso e fiz menção de sair. Minha amiga - como toda boa oriental - logo me explicou: "Estão nos dando boas-vindas". A cultura lá é praticamente impregnante. Parece que quando sair vai levar um pouco junto com você no bolso ou, pelo menos, na lembrança.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Le gusta el Tango?


Os corpos se tornam um só. As bocas quase se tocam. Os pés arrastam no chão com tanto amor que se você fechar os olhos, sente o cheiro da música (experimente fazê-lo alguma vez). O tango é forte e ao mesmo tempo gracioso, paradoxalmente lindo, extraordinariamente envolvente. É não só uma música, mas também a arte expressa em movimentos. O som dos instrumentos, todos tão intensos, vão fazê-lo viajar parado - Viajar enquanto toma uma taça de vinho Concha y Toro Cabernet Sauvignon e come um belo e apetitoso bife de chorizo.
O Tango tem uma origem misteriosa. Os argentinos juram de pés juntos que o tango nasceu lá, enquanto os Uruguaios brigam com unhas e dentes para serem os pais do filho pródigo. O fato é que: Ele começou a aparecer no fim do século XIX, filho de variadas formas musicais. No começo só era dançado por pessoas da classe baixa da sociedade. Mas aos poucos foi dominando os corações de todos.
Quando lhe disserem "tango", a primeira pessoa que tem que passar pela sua cabeça é Carlos Gardel (ao lado, na foto). Todos os livros dizem que ele nasceu em Toulouse, na França. Porém, argentinos dizem que até hoje ninguém encontrou a certidão de nascimento dele.
Os Uruguaios sustentam que ele nasceu no interior do país de la Plata. Ele é então mais um dos grandes mistérios do tango, e mais um motivo de disputa. Junto com seu parceiro inseparável Alfredo Le Pera (esse é brasileiríssimo! Nascido em São Paulo!) gravou muitos dos sucessos incríveis que regam o tango. Um pequeno exemplo é Por una cabeza (de 1935), conhecido até hoje por ter sido dançado por (ninguém menos que) Al Pacino em 'Perfume de Mulher'.
Muitos guias turísticos contam que o tango foi uma dança criada para seduzir (Ó! Que novidade!). Dizem que ficou conhecido depois que mulheres da vida começaram a dançá-lo para agradar aos marinheiros, que passavam meses no mar e, depois da incrível jornada, desembarcavam no porto de Buenos Aires. Imaginem só, eles deviam sair dos navios parecendo... vocês sabem o que.
Com o tempo a dança foi se transformando (mais uma prova de que a música e a dança são vivas). Tomando o estilo que vocês conhecem hoje. Tornando-se essa febre que é.
Quando for à Argentina, por favor (por você!), vá a um show de Tango. Eles são feitos em cafés, com o estilo todo antigo. Se você quer ver realmente um show (no sentido literal da palavra), vá a casa de espetáculo chamada Señor Tango. Aprovo em todos os sentidos, mas repito: É um show. Com direito à entrada de quatro cavalos, pessoas vindo do teto e descendo no meio do palco, Carlos Gardel até o gargalo e, é claro, muitas bandeiras da argentina (com a homenagem incrível à Evita Perón).
Se você prefere algo menos chamativo, um pouco mais reservado e antigo (esse é mais meu estilo), vá a casa de espetáculos Café de los Angelitos, ou a casa Carlos Gardel. Essas tocam o puro tango. Você vê muitos casais dançando, recheado de melodias das melhores e cantores com aquela voz.
Todas essas casas oferecem um jantar, servido antes de começarem as danças. Em Café de los Angelitos o jantar é a luz de velas, o lugar é totalmente restaurado. Servem vinhos divinos e comidas maravilhosas.
Quando o show começar, não fale nada. Ou melhor, esqueça que você existe. Pelo menos por algumas músicas. É, no mínimo, mágico. Vai viajar no tempo, sentir Gardel cantando e tocando. Ah, quando você ouvir El día que me Quieras, segure as lágrimas. O ar fica seco, ríspido e totalmente desejoso (ar desejoso? Pois é).
Porque tango, é tango.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Metrô? Como faz?


Primeiramente: calma. É melhor que antes de partir você faça uma boa busca no Google. Digite: "mapa do metrô de Paris". Clique em imagens... e, por favor, não se assuste.
Vai ver algo parecido com um desenho infantil, daqueles de pré-escola, colorido e enorme.
...
Enquanto a rede metropolitana de São Paulo possui 12 linhas, a de Paris está dividida por 8
zonas, que totalizam 14 linhas (nada extraordinariamente diferente), todas indicadas por um número e uma cor. Porém, devo lhes informar que, juntas, elas possuem mais de 300 estações.
O que equivale, mais ou menos, à uma estação a cada três ou quatro quarteirões de uma Boulevard. Parece fantástico (e é!). Afinal, quem precisa de um táxi quando se tem uma estação de metrô a cada esquina?
...
Para começar, vamos falar dos tickets. Eles são chamados de "ticket +", são vendidos para uma única viagem e, além disso, incluem um trajeto de ônibus. Se você preferir pode pedir a Carte Orange, vendida por 29 €; essa pode ser usada durante cinco dias inteiros (acredite, fica mais barato do que o táxi). Os preços do ticket + variam dependendo da zona em que você se encontra, sendo que os principais pontos turísticos estão na zona 1 e 2; lá o preço é de 1.60 €. Se você deseja se afastar da cidade, vai ultrapassar para as zonas 3-8 (se precisar ir à Versailles, ou outras cidades ao redor de Paris, por exemplo), nessas o preço é maior.
Depois que você comprou no guichê o seu ticket, passaremos para a estação. A primeira coisa que notei foi, sem dúvidas, o aspecto antigo delas. Todos os corredores são túneis com paredes brancas. O chão é cinza (mais um indício de como franceses gostam de design simples e discreto). Se você pisar forte ou estiver de sapatos, vai ouvir seus passos. Ah, cuidado para não se perder. Algumas estações são enormes, com muitas escadas e bifurcações. Aconselho que você siga o mais antigo dos instintos: procure as placas.
Como franceses amam cinema, não será difícil de ver cartazes e mais cartazes de filmes nos corredores e na pista de embarque.
Por falar em pista de embarque, repare no quão estreitas elas são. Sente-se e espere o trem. Enquanto isso, olhe para cima. Verá uma placa, com o tempo que você vai esperar até ele chegar. Até você ter feito tudo isso, já será necessário levantar, os trens demoram no máximo cinco minutos cada um.
Quando avistá-lo, levará um choque. Pequeno. Bem pequeno. Também muito antigo, lembrando os anos 60, 70. O íncrivel é que ele não se torna feio. Paris tem essa magia de transformar, até os menos atraentes objetos, em encantos.
Espere ele parar... mas, antes disso, você notará as portas se abrindo (sim, antes de ele parar). Isso acontece porque elas são abertas manualmente e, assim que o trem está quase parando, automaticamente se destravam e podem ser abertas (antes que você se faça essa pergunta, eu já respondo: Não, elas não podem ser abertas enquanto o trem estiver transitando de uma estação à outra - "ufa!").
Ao entrar não inspire tão rápido. Dentro, o cheiro é... característico (leia-se: medonho). Não sei a origem dele, mas ele existe (e como!). As portas se fecharão; dessa vez automaticamente. Começa então a pequena e rápida viagem. Quando fui, reparei que o trem balança o suficiente para te incomodar, já que estamos acostumados com a quase leveza dos nossos. Também faz um barulho que leva você a imaginar aqueles filmes de maria-fumaça.
Uma pequena observação: se por acaso você for de pantufas para o metrô, não se preocupe. Ninguém vai lhe notar, pelo menos não consideravelmente (não vá pelado, porque daí fica difícil não lhe perceberem). Aliás, essa é outra característica marcante dos parisienses. A liberdade de como pensar, vestir-se, andar, falar e ver o mundo é extremamente respeitada por eles.
Portanto, pegue toda a sua curiosidade, alguns euros, coragem; junte com um pouco de você e vá dar uma volta de metrô! O seu bolso agradece!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sous Le Ciel de Paris!

A porta do avião então se abre.
A primeira coisa que aconselho é que inspire o mais fundo que seus dois pulmões aguentarem. Não rápido, devagar. O ar é frio no inverno e, na grande maioria dos dias, seco.
Desça do avião e, antes de prestar atenção em qualquer outro aspecto, aprecie os franceses. Uma coisa que notei é que eles não têm uma genética marcante, que se perceba. Se você encontrar um francês caminhando na estação da Luz provavelmente pensará que é mais um apressado paulistano.
Quer saber o que caracteriza um francês? A roupa. Na verdade eu diria... o estilo. Eles preferem um "entrar mudo e sair calado". São discretos, principalmente quando o assunto é roupa. Preferem as cores neutras e nada estampado, gostam de listras, bolinhas e xadrez. Você não vai ver uma francesa com uma bota verde limão, amarelo ouro ou qualquer outra cor que te lembre o arco-íris. Pelo menos não no inverno.
Mulheres são baixas (ah sim, nisso a genética marcou presença) e o cabelo, sempre curto. Elas amam variar nos chapéus, que aliás, são muito bonitos e compráveis. Homens preferem passar um gel e deixar o cabelo todo para trás, mas se encontra com certa frequência algum de boina, o que os deixa muito charmosos.
...
Logo depois de descer do avião e olhar um francês pela primeira vez, você vai notar que eles não precisam necessariamente falar para te dizer o que querem. Neles, o corpo inteiro fala. Desde a sobrancelha até os pés. São transparentes e não fazem a mínima questão de mudar isso. Se estiverem desconfiados, perceberá a desconfiança em todo o corpo. A felicidade é expressa num simples movimento da boca, que por mais singelo que seja, acredite, você percebe que é sincero. Se estiverem com frio então? Prepare-se para rir. Porque francês que é francês, não fala com o corpo, grita com o corpo.
Você então entra no aeroporto. Algo que achei muito engraçado foi o modo como eles anunciam vôos e chamam as pessoas pelos alto falantes. O que no Brasil, e em outros tantos aeroportos, se limita à um pequeno toque (antes da pessoa falar do outro lado) lá se dá por alguns acordes musicais. Daqueles que te dão a nítida impressão que está no céu. Tenho que confessar que quando o ouvi pela primeira vez o coração acelerou, levei realmente um susto!

Quando você for sair do aeroporto para o Hotel, preste atenção (não, ninguém vai te assaltar). Vá para o lado de fora, espere em baixo de uma placa azul com um desenho de um táxi (até aí, nada de novo). O taxi vai parar. Aliás, há uma fila enorme deles e também há uma grande possibilidade de que ele seja uma Mercedes (não leve um susto, é normal por lá). O taxista vai abrir a janela e vai te perguntar duas coisas: Quantas pessoas são e quantas malas você tem.
Em Paris, dependendo do carro e do taxista (e, é claro, do humor dele) só se leva uma ou duas pessoas no carro, se elas tiverem até três malas. Pois é. Se estiver viajando com o seu marido, noivo ou mesmo com seus pais, vai ter que ir em mais de um táxi se for uma pessoa que tem o hábito de levar, vamos dizer assim, uma grande parte do seu guarda-roupa.
Acontece. Mas não perca a cabeça.
Lembre-se: Você está viajando.
Os taxistas que peguei não foram simpáticos. Foram educados. Muito educados. Não colocam som alto no carro, não começam a te encher de perguntas (não se esqueça: eles são europeus, não latino americanos) e se, por um acaso, eles precisarem falar ao telefone, falam tão baixo que você começa a pensar "será que a pessoa do outro lado ouve?".
Pois é, bem vindo à Paris! Esses são os parisienses. Com essa cultura reservada, mas... experimente puxar assunto. Vão te dedicar algum tempo, com muito boa vontade e simpatia.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Um dos melhores remédios!


Prepare as malas. Ponha todos os dissabores e mágoas. A viagem vai começar. Em breve, nada será como antes.
... Por quê?
Ver, ouvir, cheirar, tatear e sentir: As pessoas, as infinitas linguagens, a cultura, a religião e os hábitos que os lugares nos apresentam. Essa experiência faz-nos descobrir um espaço diferente daquele que habita nossas mentes e que nós costumeiramente chamamos de "mundo".
Passar dificuldades nos hotéis, nas ruas, nos inúmeros restaurantes... acredite ou não, isso muda a sua vida. Todos os seres humanos que têm por hábito a viagem, nunca olham uma pessoa na rua e a estranham. Nada lhes é estranho. Todos se tornam iguais, todos somos iguais.
Viajar é como comprar a mais cara máquina fotográfica e, depois de perder retratos e mais retratos (por não saber usá-la), decidir fazer um curso de fotografia.
Você então monta a máquina. Carrega a bateria. Liga.
Tudo parece diferente. As luzes, as cores.
Viajar é finalmente aprender aquela disciplina insuportável e, no final, descobrir que a ama. É aprender a escrever novamente. É acordar depois de um pesadelo e descobrir aliviado que o mundo, na verdade, é menos ruim do que você vira. Abra os olhos. Sinta o espaço ao seu redor.
Nesse blog você encontrará dicas, pensamentos e impressões de uma menina-mulher que, embora não tenha viajado metade do que gostaria, tem seus tickets de viagens guardados todos numa caixa em sua casa. Sei que pode até não significar muito, afinal, não sou formada em turismo, não fiz história nem jornalismo e não trabalho como crítica.
Gostaria tão somente de compartilhar com você (seja você quem for) um pouco desse mundo que eu pude, por alguns dias e algumas vezes, vivenciar. Vamos lá!
Para começar, nada melhor do que um pouco de frio, glamour e crepes de Nutella. Sabe de onde estou falando? Bienvenue à Paris!