sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Partida.


            Minha voz trêmula percorria ávida as linhas de um papel de notas todo amassado que guardara para a ocasião. Tamanha fora a expectativa para a chegada do momento que mal pude perceber o ambiente ao redor. Talvez por isso só dei-me conta do ocorrido algum tempo depois.
         Tomei-me de um nervoso redemoinho de sensações desagradáveis (e sem dúvida meu busto avermelhou-se sobremaneira que acabou por delatar minha pseudo-determinação - não seria fácil, e não foi).
            As palavras foram correndo mais rápidas do que esperadas, mas não passaram de cinco ou seis. O corte veio enfático. “O que você está querendo dizer?” Antes que pudesse soltar algumas explicações, fui cortada novamente, dessa vez por um tom de voz um tanto quanto maior do que o necessário. A vermelhidão apossou-se também delas. Tentavam (e conseguiam, para a maioria dos presentes) simular indignação e certeza. Suspiravam rapidamente para tomar fôlego e prosseguiam as injustiças verbais, as quais todos puderam presenciar e ouvir.
           Tomei-me de um susto quando percebi que, na verdade, mal conseguira terminar minha primeira anotação do total de quatro que tanto treinara na noite anterior com meu travesseiro.
       As entonações e expressões que ali percebia contradiziam toda minha natureza, minha calmaria. Inspirava silêncio, expirava decepções. Mal dava tempo de tentar falar. Não me era permitido.
            Um dos presentes optou por levantar-se e sair. Claro, não ficaria em um local tão tumultuado e desprovido de respeito para com suas palavras. E como todo faltante, sobrou para ele as diversas incoerências. Mas dessas não me contive.
            Em picados, em cortados, moídos, as palavras foram proferidas por mim. A saída já era prevista, mas precisava ser esclarecida e totalmente justificada. Acabou-se o suspense, já visualizava o quebra-cabeça como um todo, as ações tomadas no decorrer de um longo ano.
            Lutei comigo mesma para entender o porquê de admirar (e querer bem) alguém que nos disse tantas palavras rudes, impropérios que rasgaram qualquer vestígio de sentimento bom. Ao final, não ganhei nem perdi. Vivi mais uma decepção. Que só deu as caras por tamanha expectativa posta. E deposta.