quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Mudança, mundo.

Dar início ao ano abordando o conceito de mudança tem um quê de simbólico, não acham?
Pois eu acho.

Sempre disse que viajar muda as pessoas. Mas só agora me dei conta do quão verdadeira essa frase soa para a minha própria vida.
Não precisa de muito. Ande pela rua de qualquer local que não seja o seu bairro. Experimente, por exemplo, lugares piores, não melhores (quanto a quesitos financeiros). Repare no distinto.

Aprecio passear pelo centro de São Paulo. Certo dia encontrava-me no Largo do Paissandú (dia 20 de Novembro - o dia da Consciência Negra), com minha câmera fotográfica querida e meus bons amigos (todos belos). O sol deixava minha pele mais vermelha (além de quente) e o vento pouco se interessava em refrescar-me. Atentei que enquanto caminhávamos junto a marcha, pessoas recostavam-se com suas caixas de papelão e tentavam até dormir.
No chão. Juntos; mas no chão. Um cão de guarda, alerta, nos olhava. Os quatro garis que ali limpavam, sorriam e conversavam sobre cotidianidades. Sentei-me no chão, à sombra. Cheiro de mijo (poderia optar por palavras mais acadêmicas, mas senti algo de real nessa) e de concreto.
Ainda não sei exatamente o que me ocorreu, mas passado alguns minutos de pura observação, meu mundo mudou, nesse meu um metro e sessenta de muita imaturidade, algo ao redor, alterou-se. Retratei tudo, com um preto e branco sem igual. As cores não mudariam muito disso mesmo.


Foi então que percebi. Notei que sentir e viver, e tocar, e cheirar (com todos os e's que uma adição pode nos trazer) vale mais do que ler e estudar.
Utilizar-se dos sentidos, para sentir o mundo. Não como imaginamos, ou nos parece ser; mas tal como é.
Saber o que sente, um indigente. Um índio que não terá onde viver. Uma mulher que passa fome. Um desempregado. Um viciado. O padeiro que trata as pessoas mal porque não tem uma vida harmônica nem dentro de casa. A mulher que limpa o chão do prédio que está visitando/que trabalha/que mora. A boliviana imigrante que foi ao hospital na madrugada com seu filho se contorcendo em cólicas e que não entende uma palavra sequer do que o médico diz, mas mesmo assim foi. O motorista do ônibus que vai para o Terminal Parque Dom Pedro. Os homens que moram (repito, moram) no Parque Dom Pedro, com seus fiéis
animais (e únicos amigos).
Quando chegar em casa, depois da viagem diária e rotineira (seja ela composta de trabalho, estudos ou afazeres), reflita. Olhe seu quarto, seus apetrechos. Mas saia de você. Entenda que faz parte, que pertence. Que, sim, "poderia ser você".

Em breve, vai notar que ir à padaria não será mais o mesmo que ontem.
Que viajar até a faculdade/empresa/restaurante, torna-se a nascente de mudanças.
Que enquanto as pessoas de seu bairro, de sua cidade, de seu estado, de seu país não estiverem bem, você vai buscar meios de, pelo menos, não contribuir para piorar.

Há alternativas.
Viaje pela sua rua e descubra o mundo.

3 comentários:

  1. "Não precisa de muito. Ande pela rua de qualquer local que não seja o seu bairro. Experimente, por exemplo, lugares piores, não melhores (quanto a quesitos financeiros). Repare no distinto."


    Perfect... isso é realmente FATO..

    amei o texto.. depois eu volto aqui para ler e comentar com mais calma!

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  2. viaje pela sua rua e descubra o mundo...

    olha senhorita Idealli.. e so vou comentar o que achei desse final.. pessoalmente ok :)
    Aquele abraço

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  3. So descobri seus textos agora, seis anos depois. Você ainda existe?

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