segunda-feira, 11 de abril de 2011

Viajando para "dentro"


"O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo, não é parte;
mas se a parte o faz todo, sendo parte,
não se diga que é parte, sendo todo"
(Gregório de Matos)


Hoje a cabeça está cheia, entumecida, balonada, ou seja lá qual for o adjetivo.

Aquele dia pesado mentalmente. Entendem?

Escrevo (de forma amadora, é claro) sobre viagens. Mas talvez eu nunca tenha me dado à esse luxo (ou será falta de ousadia mesmo?), o de escrever sobre a viagem interna que todos nós realizamos diariamente (consciente ou inconscientemente).

Pois hoje decidi sentar aqui e dizer umas boas verdades. Acredito que mais para mim do que para vocês, coitados. Mas sempre tive essa necessidade, de expor os fatos, de forma que eles tendam a se organizar depois disso, criar uma certa ordem (ou desordem pseudo-organizada) dentro de mim.

Mas então, quais são os fatos?

Vejo e sinto tantas pessoas ao meu redor. O dia-a-dia me faz isso, conviver. Viver e ver o quão diverso é o mundo e as diferentes formas na qual uma mente pode se apresentar às outras. Porém, em minhas viagens, notei que ao mesmo tempo que parecemos ser muito diferentes, somos extremamente semelhantes, embora não percebamos isso.
A percepção do mundo ao redor é uma difícil característica de ser encontrada hoje em dia. Percebermos que não estamos sozinhos (de fato), que vivemos em uma grande comunidade denominada Terra, que nossos prazeres podem sim serem atingidos (sem que, para isso, tantos outros prazeres alheios sejam deixados de lado). Que muito antes de existir o eu, existe o nós.

E então, eu olho para o mundo e penso: "?"

Quer dizer então que a grande maioria não tem o sentir-se-parte-de?
Brasileiros falando mal de brasileiros, brigas de estados. Uns achando-se pais do filho pródigo, enquanto outros são rebaixados à nada. Pessoas que trabalham, muitas vezes mais do que todos juntos, faça chuva ou faça sol, sendo minimizadas. "Ah, mas o povo brasileiro é assim mesmo, não gosta de trabalhar." Quem diz isso ao certo não pega ônibus às 07h da manhã ou às 18h da tarde. Eles geralmente estão vazios, com alguns poucos pé-rapados que não gostam de trabalhar, passeando pela cidade, à toa.

Isso, é claro, sem nem citar o problema dos negros e das mulheres. (é... problema, gente - preconceito, há)
Ainda existe esse tipo de pensamento.
Temos inclusive grupos que visam rebaixar/eliminar Chineses, Coreanos, Índios, Indianos, homossexuais. São poucos? Eu pensava que eram, mas não são.

Já repararam como pessoas gostam de colocar a culpa umas nas outras?
A culpa é do governo, do vizinho, do cachorro do vizinho (desses eu tenho dó), do padeiro, do jornaleiro, do governo (eu já disse isso?)... ah sim, e da sociedade (essa palavra também é aplicada com frequência).
Troquemos então a palavra culpa por responsabilidade.

Pois se o planeta é um bem público, façamos o favor de nos sentir parte dele. De tomarmos a responsabilidade dos fatos. Aqui não existe mais o seu problema e o meu problema, mas sim o nosso problema.

E aqueles que têm mais (leia-se: dinheiro) e acham-se no direito de, de fato, sentirem-se melhor que o resto dos 90% do mundo que não têm (maioria, isso mesmo)? Como diria Cazuza "vamos pedir piedade, senhor piedade... pra essa gente careta e covarde".

A África é simplesmente inexistente no cenário global. (e esse parágrafo, mesmo sendo o menor, é o mais profundo e real)

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Hoje, pela primeira vez, tive vontade de sair daqui. Daqui onde? Sei lá, de mim, pode ser?
Será que é porque eu já viajei e me joguei sobre novas experiências e culturas? Nasci assim? (com certeza não)
Fiquei em crise. Por me sentir parte de um sistema todo falido. Fadado ao fracasso e à tudo isso que assistimos na televisão (outro grande erro, diga-se de passagem) todos os dias. Não faço apologia ao capitalismo, comunismo, anarquismo ou socialismo. Também não faço à religiões. Mas há sim o repúdio. Não a essas criações, mas sim a falta de senso crítico com que nos jogamos, todos.

Viajar para "dentro", ou para fora? Não me decidi direito quanto ao título ainda. Ao mesmo tempo que viajar para a cidade vizinha pode ser (e é, extremamente) construtivo, viajar para nós mesmos e realizar a tão falada (e sucatada) auto-reflexão é engrandecedor.
Tomar atitudes, é mais ainda.


Eu não faço o tipo que costuma escrever sobre assuntos não felizes, muito menos o tipo de 'vamos fazer um planeta melhor', mas consciência do mundo não saiu de moda, ainda.

A esperança, sempre permanece. Fazer a nossa parte, sempre.

"Amanhã, vai ser outro dia... amanhã, vai ser outro dia."
(Chico, meu querido)



2 comentários:

  1. Eu sou tão realista (talvez pessimista) quanto a essas questões... "É, acho bem provável", como quem diz "É, acho bem provável que amanhã choverá". Complicado. Eu faço a minha parte, você a sua, nós a dos outros... e tudo fica melhor, aos poucos. "Assim caminha a humanidade: com passos de formiga e sem vontade..." (Lulu)

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  2. achei muito bom o texto! parabéns

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